domingo, 28 de novembro de 2010

QUEM QUER O CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL?


Da esquerda à direita não se ouve uma palavra sobre um assunto como este. E no entanto disseram-se cobras e lagartos da reunião NATO, uma obrigação do país enquanto membro de tal aliança. É um hiato preocupante. Ninguém me ouvirá uma palavra de menor elevação para com as pessoas detentoras dos altos cargos do poder ou da oposição. Mas também ninguém me impedirá de pensar, se um dirigente vê o poder chegar-lhe à mão e logo diz não se importar de governar com o FMI – cuja intervenção só ocorre a pedido do governo ou da instância comunitária – é uma atitude a parecer nitidamente desculpabilizante para a eventualidade duma governação mais difícil e penalizadora de quantos menos podem.
Se os dois primeiro ministros da Ibéria juntam as mãos num alvoroço para terem um Campeonato do Mundo de Futebol nesta quase Jangada de Pedra pós Saramago, quem se interroga sobre o real interesse de tal evento para os povos da península? Servirão os Estádios existentes e de recente construção para realizar tal prova? A resposta parece ser a negativa. Temer-se-á nova greve ou insubordinação geral se tal não acontecer? As organizações políticas mobilizadoras dos funcionários de emprego assegurado são muitíssimo eficazes a juntar pessoas. Mas qual é o executivo a deixar-se impressionar por isso? O resultado de tal eficácia em termos de impacto é praticamente nulo no executivo e na sociedade. 
Estarão a considerar tal eventual perda um factor mobilizador, porquanto supostamente penalizador? Seria ridículo se assim fosse. E pior seria ainda se estivessem a pensar por igual nos possíveis efeitos analgésicos deste acontecimento lá para 2018. Equacionando estas respostas, sabendo-se ser difícil uma recuperação satisfatória das economias portuguesa e espanhola para a próxima década e o preço pago pelo nosso país com a multiplicidade de Estádios novos, então desnecessários e agora inúteis, quanto a mim a melhor ajuda do senhor Blatter a Portugal e Espanha será entregar o evento a ingleses, russos ou holandeses.
Mas se todos parecem desejar mais uma calamidade financeira, sem ao menos um pentelho de impacto turístico conhecido, o melhor será meter a viola no saco.
Henrique Pinto
Novembro 2010
FOTOS: Joseph Blatter, presidente da FIFA, Associação mundial para o futebol; Cristiano Ronaldo, personalidade portuguesa convidada para a campanha pelo Mundial; Iker Casillas, seu colega de equipa e integrante da representação espanhola; nem o Estádio da Luz ou do Dragão, como estão actualmente, estarão à altura do evento.

LUFADA DE FUTURO


E eis que se canta o Fado em São Martinho do Porto, no Abelhão. É um preito a Fernando Nobre. E muitos são os que cantam, tertúlia imensa, amadora dos que amam. Líder de carisma, notável directora de campanha, mulher de ideias e princípios, imparável, Teresa Serrenho também cantou, com a paixão de tudo o que faz. Num momento de incrédula desesperança, de entronização da mediocridade e dos
números sem pessoas dentro, de auto-satisfação pela incultura, evocar a coragem e o desassombro em Fernando Nobre é um tónico, refresca e adoça a convicção nos valores. Dele escreve Luís Pedro Nunes
no Expresso, «Ter salvo a vida a milhares de pessoas nos horrores nos quatro campos do apocalipse
não lhe dá imunidade na sarjeta da vida política portuguesa». É bem verdade. Mas nunca será um fatalismo. Do verbo far-se-á exemplo. Dos debates televisivos se espera a lição de cátedra.
E assim termina o meu ciclo semanal diverso e intenso, estimulante, um périplo de arrasar, a princípio, este bálsamo de Nobre fado e salvífico Rotary como a cereja no bolo. O Governador Armindo Carolino esteve na Figueira da Foz, o terceiro clube de serviço português. Miguel Nascimento Costa, presidente, amigo de antanho, foi como o governador um palestrante inspirado, motivador, de causas. De permeio,
lograr uma nova sede para Fernando Nobre em Leiria com a Teresa Mariano, ali mesmo no largo que olha o castelo com a ternura do patrono e do seu verbo, Rodrigues Lobo. E um momento de particular originalidade evola-se do esforço, do voluntarismo, da sociedade civil. O Orfeão de Leiria Conservatório de Artes corre pelo Estádio Municipal adentro, é assinado um Protocolo de cooperação com a administração da empresa gestora, a Leirisport, numa boa parelha com a amizade de Leonel
Pontes com a bênção da Câmara Municipal e do Governo Civil. As construções do espírito e a prática física unem-se neste oráculo moderno, sempre convertível, e dão-lhe a inspiração do novo Delfos, uma lufada de futuro.
E a semana recomeça com o agrado de longo curso de Gabriela Canavilhas, Cascais e o Mar, a evocação da morte de Sá Carneiro, o ensino superior e as disciplinas da saúde, o mecenato empresarial, o Armazém das Artes doutro amigo, o escultor José Aurélio, a Liga dos Amigos do Hospital de Santo André em Assembleia, a Reunião CIP em Zurique com a força do presidente Ray Klingensmith, a saudosa memória de meu pai no seu 91º aniversário de nascimento…
Henrique Pinto
Novembro 2010
FOTOS:Teresa Serrenho ontem em Itália, hoje com o Fado preito a Fernando Nobre; o mar de Cascais; Teresa Serrenho canta o fado no Abelhão, em São Martinho do Porto (foto de telemóvel, sem flash); Carlos Lopes, representando o Governador Civil de Leiria, Henrique Pinto, Leonel Pontes, presidente da Leirisport, e Engenheiro Martinho, representando o presidente da Câmara de Leiria, assinatura do Protocolo de Cooperação entre o Orfeão de Leiria Conservatório de Artes e a Leirisport, entidade gestora do
Estádio Municipal (foto Telemóvel, Isabel Figueira); Henrique Pinto e o escultor José Aurélio, nova Exposição no Armazém das Artes; Manuela Santos, Armindo Carolino, governador de Rotary International e Miguel Nascimento Costa, jantar oficial na Figueira da Foz; a ministra da cultura Gabriela Canavilhas e as declarações frontais sobre a cultura e o futuro; as minhas luzes; com Ray Kingensmith em Zurique; o Orfeão de Leiria Conservatório de Artes tem agora 300 alunos no Estádio Municipal de Leiria, um outro tipo de centralidade cultural.

domingo, 21 de novembro de 2010

SONHO DUMA TARDE DE OUTONO

A Oração de Sapiência no OLCA
Para as três escolas do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes – de Música, de Dança e Conservatório Sénior – assinala-se hoje perante vós a Abertura Solene do Ano Lectivo. Distingue-nos e emociona-nos a presença de todos vós, aqui. Honra sobremaneira esta instituição a participação das autoridades do concelho e do distrito, e, de forma tão carinhosa, dedicada, a participação do Professor Doutor António Pinho Vargas, fautor da Oração de Sapiência deste momento singular para todos nós. Um Bem-haja bem extenso, pois, por tão soberana aceitação e reconhecimento.
A mudança dos últimos trinta anos
Ao longo dos últimos 64 anos e de uma forma continuada, Leiria e a sua região têm contado com o contributo artístico desta casa e do empenho voluntarista de quantos, amadores e profissionais, por ela têm dado o melhor de si, com gosto no que fazem, por diletantismo, obviamente, mas sempre no propósito de servir o Outro, de preitear a sua comunidade alargada.
E nos trinta anos que passaram até hoje, o Orfeão de Leiria, depois Conservatório de Artes, foi pioneiro na mudança do paradigma artístico a muitos níveis, introduziu todas as vertentes e projectos que hoje se multiplicam por aí – quantos deles sem pagarem autoria ou baixando mesmo ao nível do inverosímil, para cavalgarem a onda da comunicação, sem cessar. Mas a vida é assim.
Sem o espavento do acessório o Orfeão cresceu em estrutura, processo e impacto, sem cedências ao fácil, ao demagógico. Com infraestruturas próprias ou em parceria – a realizada com a empresa Leirisport, gestora do Estádio Municipal de Leiria, de grande alcance no presente e no futuro, tal como a operada com a Paróquia de Leiria -, temos uma elasticidade de oferta notável. Espera-se começar ainda em Dezembro próximo as obras do piso recuado, com recurso ao crédito bancário, de molde a favorecer uma melhoria substantiva na qualidade da oferta, que é já de si qualitativamente alta. E apostamos muito na capacitação do nosso «exército», recursos humanos de bom nível e extrema dedicação.
Atraente para nichos com maior capacidade financeira
Encarando os novos tempos com frontalidade e optimismo fizemos agora o que muitos renegam no alijarem a carga a pretexto da conjuntura difícil – admitir mais pessoal e muito qualificado –, dotando a instituição do há muito desejado, uma ossatura técnica profissional, estratégica, apta a, em consonância com a direcção, amadora, e com as direcções pedagógicas, assaz conhecedoras e especializadas, optimizar-lhe o futuro.
É também com essa frontalidade e optimismo que enfrentamos o voto de continuarmos sendo a maior escola artística do país, mantendo os níveis de exigência pedagógica e artística mais ousados. Mas temos também por imperioso diversificar a oferta em 2011-12 exa novas modalidades artísticas na música e dança e a nichos de procura não influenciados pelas comparticipações financeiras e contratualizações públicas. Tem-se em vista satisfazer, não apenas formas alternativas de aprender e praticar artes, mas também os propósitos dum leque substantivo de famílias que pode pagar e tem exigências diferentes das que até agora o Estado e o comum das Escolas lhes pode proporcionar. É ainda um propósito de minorar a dependência de contratualizações públicas.
O Tio Patinhas
Obviamente que manter a actividade pedagógica neste patamar, e, simultaneamente, apresentar ao país o resultado das suas escolas e grupos artísticos, de par com uma prática cultural electiva, implica «com muito pouco fazer muito». Provavelmente, haverá até quem pense que o OLCA é rico e nada em recursos ao jeito do Tio Patinhas. Não é verdade. Mas o trabalho produzido aqui, sem qualquer arrogância, dizemos, supera o somatório do de dezenas de outras instituições igualmente dedicadas, se juntas, sem que alguma vez tenhamos feito ou venhamos a fazer, o reivindicar de qualquer proporcionalidade também em compensações financeiras, em público ou em privado. E este trabalho está à disposição incondicional de todas as instituições que o desejem fruir.
Para tal conseguir é necessário o prestígio do trabalho feito, da prática artística – sem contorcionismos, aqui a música «não cura fracturas do fémur» – só ela é indutora de ganhos cognitivos e sensoriais. É esse prestígio que nos trás alunos. São esses alunos o alvo das contratualizações, com o Estado ou outras entidades.

Mas o papel dos mecenas públicos e privados neste sucesso, muitos dos quais aqui representados hoje, é incontornável. Como é incontornável o contributo das autarquias da região. Como é absolutamente fundamental o Protocolo subscrito com a Câmara Municipal de Leiria, assente na prestação de serviços específicos por parte do OLCA - e não aberto, oscilante -, o que nunca será demais realçar.
O êxito desta casa é portanto o somatório dos êxitos de quantos nela porfiam, de quantos nela crêem, de quantos nela apostam, de quantos nela vivem e a amam, de quantos a suportam. 
António Pinho Vargas, hoje
Mas para glorificar esta Abertura Oficial do Ano Lectivo no OLCA, este acto solene, contamos, para além de música e dança, nossas, com a palavra amiga de tão distintas personalidades. O Professor Doutor António Pinho Vargas fará a Oração de Sapiência desta sessão. Já esteve no Festival Música em Leiria apenas com o estatuto de músico fabuloso, numa sessão memorável. Hoje é um académico distinto, como podeis ver pelo curriculum distribuído. Licenciado em História pela Faculdade de Letras do Porto, António Pinho Vargas completou o Curso Superior de Piano no Conservatório daquela cidade e diplomou-se em Composição no Conservatório de Roterdão, onde estudou três anos como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Frequentou cursos de Nunes, Cage e Andriessen, e seminários de composição com Ligeti na Hungria e Donatoni em Itália. É profusamente galardoado e premiado por creditadíssimas instituições. Condecorado pelo senhor Presidente de República Portuguesa com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, em 1995, foi professor de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa. Desempenhou as funções de consultor na Fundação de Serralves e no Centro Cultural de Belém. Ligado ao jazz por vários anos, gravou sete discos com dezenas de composições originais. Com o seu grupo de jazz apresentou-se em muitos países da Europa, África, Ásia e nos Estados Unidos. Compôs música para teatro e cinema.
Sobretudo a partir da sua estada na Holanda, António Pinho Vargas tem-se dedicado principalmente à música contemporânea, ocupando lugar de relevo no actual panorama português. Algumas das suas obras foram executadas mundo fora. Participou em inúmeros festivais mundiais.
António Pinho Vargas terminou o seu doutoramento na Universidade de Coimbra sob a orientação do Professor Boaventura de Sousa Santos (C.E.S. da Universidade de Coimbra) e do Professor Max Paddison (Universidade de Durham), com uma bolsa da Fundação da Ciência e Tecnologia.
O trabalho tem o título Música e Poder: para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu. É actualmente Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e professor na Escola Superior de Música de Lisboa.
É esta personalidade brilhante que teremos todos o ensejo de ouvir dentro de alguns instantes. Bem-haja.
Henrique Pinto
Leiria, 20 de Novembro de 2010
FOTOS: Edifício principal do OLCA; António Pinho Vargas durante a Oração de Sapiência no OLCA; Henrique Pinto, presidente do OLCA, em debate com os amigos MNE Luís Amado e Professor Doutor Carlos André, numa sessão de Café das Quintas da instituição; Henrique Pinto com as colaboradoras Dra. Sandrina Antunes, Sub Directora Pedagógica Sofia Rocha e Dra. Teresa Diniz; Dra. Rosa Gaspar, Adjunta do Governo Civíl de Leiria, Henrique Pinto, Dr. Gonçalo Lopes, vice-presidente da Câmara de Leiria; Eng. João Eliseu, Presidente da Assembleia Geral do OLCA e Professor Doutor António Pinho Vargas; Directoras Maria José Reis, Maria do Céu Mendes e Adelaide Pinho; Dr. Gonçalo Lopes, discursando; Neuza Bettencourt, Directora Pedagógica; as minhas luzes; Dr. César Santos, Graça Sousa, Henrique Pinto e António Pinho Vargas, à conversa; António Pinho Vargas e a Oração de Sapiência, na Abertura Solene do Ano Lectivo no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

FALAS DE COMADRES

Há meios onde escasseia a gente de leitura e compreensão, por razões explicáveis. Mas, duro no aceitar, menos e menos se vê um político com substância «sentado» num evento cultural de significado. Alguns cirandam nas plateias tratando-se de «vernissages», lantejoulas, gente vistosa. Os afoitos na política, de partido ou não, são, por regra, mais e mais abúlicos face à cultura, às estéticas, ao ontológico, à essência das coisas, ao Outro. Por vezes, como se a afirmação da menoridade os guinde ao estrelato preferem guerrear as ideias alheias mesmo se delas se apropriam. Limpam os dedos da sardinha assada enquanto as telhas da casa voam, quais notas de casino. Bajulam com as garras dos sorrisos. Deixei de me preocupar em absoluto com estes figurantes de grandes e pequenas produções mesmo se este alheamento me coarcta no dar tanta atenção ao enredo, e, quiçá, ao desempenho dos verdadeiros actores do filme. Até talvez o mundo seja assim há séculos e nós prestemos mais atenção ao terrorismo bombista em desfavor do mais «light», quais falas de comadres, álcool fervendo, intrigas de mulher dama, ministros mosca morta, vidas acima dos bolsos, o corroer das veias nos quotidianos. Amam a estrela polar e hostilizam o mundo. Nesta biodiversidade entram muitos dos melhores.
Preocupam-se com a globalização, um fenómeno natural. Acreditaram no gongorismo e nos hossanas ao futuro dos videntes da nova ordem mundial, passado o nó górdio dos produtos financeiros tóxicos. Viria aí o capitalismo menos selvagem. Esquecem o efeito esclerosante sobre a democracia dos institutos não reciclados, da eternidade das leis. Deleitam-se no caruncho analítico dos medinas carreiras. A fobia do colesterol furta-lhes a erecção ou a líbido. Alain Minc fê-los crerem numa imprensa de jornalistas. Enquanto isso o negócio informativo trepou pela dor, o suicídio, contagioso, vira página de rosto, a seriedade desejável à política é tablóide, vendável, papel ou imagem animada. O estrondo do verniz diplomático incomoda. Tolera-se a hipocrisia dos discursos da «verdade».
Como Galindez, de Montalbán, é fugir a quantos apregoam dizer tudo quanto pensam, não tarda mordem-nos. O sorriso etéreo dos sem casa, inimaginável, o interiorizar da nostalgia de Mandela, «mestre do seu destino, capitão da sua alma», ver o exemplo no tolerante e solidário, ouvir a «nona» na força da humildade, dedicada, em resguardo, é recompensa, mesmo se o caminho mais longo para chegar à cidade.
Henrique Pinto
Novembro 2010
FOTOS: manifestação antiglobalização, Sidney 2002; Montalbán; Nelson Mandela e Graça MachelAlain Minc

domingo, 14 de novembro de 2010

XANGAI, A METRÓPOLE

Antes de começar a conversa de hoje, preciso ressaltar - para alguns leitores - que o fato de me impressionar com a China que visitei e voltar encantado com tudo quanto vi, não quer dizer que concordo com as regras político-sociais vigentes naquele país. Deve ser muito difícil viver onde não existe liberdade de expressão, controle sobre a família, inúmeras limitações impostas ao cidadão comum, como os escorchantes esquemas de remuneração da mão-de-obra, pobreza urbana e rural, desequilíbrios inter-regionais gritantes e, em fim, tudo quanto difere aquele país dos que vivem o mundo democrático.
Contudo, é impossível não enxergar e exaltar, entre muitas outras coisas, a pujança económica, a dinâmica do mercado interno, o arrojo tecnológico, a ousadia da construção civil e a preservação de valores históricos devidamente harmonizados com o modernismo. Como na postagem anterior, é difícil explicar o que acontece ali. Eu não saberia dizer o que existe na China. Indiscutivelmente se trata de uma experiência única de regime comunista mixado com capitalismo, dentro de certos limites bem delineados... sei não. É complicado tentar explicar essa coisa. O futuro é que vai revelar a realidade.
Andando em Xangai o visitante esquece tudo isto e experimenta a sensação de respirar o mais autentico dos capitalismos. Sinceramente, nunca vi tantas megalojas das grifes mais badaladas do mundo. São verdadeiros assombros. Nada que normalmente vemos em Paris, Londres ou Nova York, onde, segundo me recordo, as grifes têm lojas menos portentosas do que as que mantêm na China. E isto é um sintoma concreto de capitalismo. Sei lá, talvez os imóveis comerciais sejam mais baratos na terra de Mao, enquanto que, por outro lado, as políticas fiscais e trabalhistas beneficiam mais o capital do que o trabalho. A verdade é que a coisa surpreende, é claro. Eu, por exemplo, “dei um nó no juízo” e, até hoje, não consegui desamarrar. Essa China é um laboratório de arromba.
A exuberância de Xangai é uma coisa incrível. Segundo nosso guia local, a cidade mudou de cara nesses quase trinta anos de abertura. A chegada do capital estrangeiro, aliado à fantástica poupança do país transformou a cidade numa metrópole sem comparação, mundo afora. As antigas vilas de casas populares, sobradinhos padronizados do passado, dão lugar a arranha-céus espetaculares, que vêm, rapidamente, mudando o perfil de uma das maiores cidades chinesas. Os centros Comercial e Administrativo-Financeiro ali implantados, em meio a uma urbanização irretocável, composta de imensas e largas avenidas, pontes, vias elevadas e viadutos, tudo devidamente ajardinado e bem cuidado, é de encantar qualquer visitante. O aeroporto é o melhor cartão de visitas. É arrojado e funcional, amplo e luminoso. Primoroso. Certamente que tudo isso vem exigindo muita grana e isto é o que não falta na China de hoje.
O turismo vem se destacando, também, como uma das importantes fontes de renda da cidade. E não se trata, necessariamente, de turista estrangeiro, que não chega a ser tanto, em termos relativos. A grande massa dos turistas é composta dos próprios chineses que, ao contrário do passado, tem agora mais dinheiro no bolso e podem se deslocar mais livremente internamente. A Prefeitura de Xangai não perdeu tempo e implantou uma agressiva política de atração turística, que vem proporcionando o aparecimento de suntuosos hotéis, restaurantes de cardápios internacionais, além de equipamentos de lazer de primeiríssima linha. Ninguém que visite Xangai, por exemplo, pode sair de lá sem fazer um passeio de barco no Rio Huangpu, preferencialmente à noite, quando a cidade se ilumina de maneira multicolorida e cinematograficamente. É deslumbrante! O governo incentiva com a redução de 50% do custo da energia consumida e o resultado é puro sucesso. Pude notar que, na prática, parece haver uma verdadeira disputa para ver quem ilumina melhor e de modo mais bonito o seu edifício. Eu nunca vi uma coisa daquelas. Vide as fotos da postagem. Aliás, passando por Paris na volta (ficamos três dias por lá, tentando neutralizar o jet-lag que qualquer pessoa sofre, nessas mudanças bruscas de fuso horário) foi inevitável comparar e concluir que o titulo de Cidade-Luz, embora emblemático, pode ser uma coisa do passado para a capital francesa. Xangai bem que merece este título, neste inicia de século 21. Este ano, inclusive, a cidade teve um motivo bem maior para se engalanar e receber o turista, por conta da ExpoXangai 2010, a feira mundial do quinquénio. Eu estive por lá e depois comentarei sobre o que vi.
Girley Brazileiro
Novembro 2010
FOTOS: Girley e Sónia; Xangai

PROTAGONISTAS DO MUNDO

O presidente John Fitzgerald Kennedy foi assassinado há quase 47 anos. Fossem os núcleos anticastristas de Little Havana, em Miami, fosse a então poderosa Máfia e os seus sindicatos, fossem mesmo os Falcões das forças armadas ou da CIA, ou tenha sido a conjugação de mais que um destes interesses instalados a ordenarem o atentado de Dallas, o mistério permanece.
Nem tudo foram boas aventuranças no curto «reinado» Kennedy. Venceu as eleições com a menor margem de votos na história americana. Não fora sair-se bem no último dos debates televisivos com um Richard Nixon demasiado confiante e apático e, quem sabe, o destino poderia ter sido outro. Para o bem e para o mal os EUA têm o poder mais distribuído que um país tão pequeno como o nosso e metade
dos da Europa. O presidente tem as suas baias naturais. Impõe-se-lhe fazer lóbi democrático, para as
superar, sempre que o caminho das suas opções políticas encontra escolhos igualmente naturais. Mas o halo de esperança que perpassou no mundo, mesmo em ditaduras com débil informação pública como as que se viviam então pela Ibéria, só se assemelha na história ao gerado na campanha ulterior de Barack Obama. Senti a mudança Obama porque eu próprio estava, de início, convictamente, com a senhora Hillary Clinton. A leitura dos seus livros e outros escritos do actual presidente tocou-me como nunca e fez-me mudar de opinião.
Barack perdeu agora as eleições intermédias para o partido opositor, como aconteceu a quase todos os presidentes nos últimos 102 anos (excepto a dois, e em contextos excepcionais). Mas também perdeu pela margem mínima.
Quando no Palácio de Potsdam, imperava ainda Honneker naquelas bandas, pude ver que um jovem jornalista americano, JFK, pudera seguir da tribuna a Conferência realizada em 1945, que ostenta o nome da cidade – entre Estaline, Churchil e Truman -, aquela que orientou o imediato pós guerra, fiquei
emocionadíssimo. Ao saber da presença dum jovem senador americano no norte do Darfur, no período mais agressivo, contundente, das milícias governamentais, mais admirei os homens de causas que se antecipam ao mundo para se inteirarem do sofrimento alheio e minorá-lo.
Vou dizer-vos com convicção o que sinto agora. Poderá parecer presunção, «mania das grandezas», estratégia, sei lá, mas, seguramente, não é por qualquer destas «supostas» motivações. À nossa escala só comparo estes dois presidentes americanos, enquanto candidatos, a quem, conhecedor e protagonista do mundo, minguados os recursos financeiros para melhor transmitir a mensagem, porque independente, corre para Belém imbuído por convicções, num imperativo de consciência e cônscio da sua enorme mais-valia pessoal para Portugal, Fernando Nobre.
Henrique Pinto
Novembro 2010
FOTOS: JFK, Jaqueline e filhos; JFK discursando como presidente; JFK e esposa numa recepção na Casa Branca; Barack Obama; JFK herói da Navy na segunda Grande Guerra; o clã Kennedy; Henrique Pinto, em Leiria, discursando como mandatário de Fernando Nobre (foto Dion); Outras das minhas luzes

sábado, 13 de novembro de 2010

«OS FAITS DIVERS» EM CAMPANHA

É dos «faits divers» que a imprensa em geral gosta, nem há que levar-lhe a mal. E estes, numa campanha eleitoral, preveníveis ou não, têm inexoravelmente um de dois efeitos opostos, o benefício ou o dolo. Ou são a tal modo indutores de vitimização, e favorecem a adesão, ou dão azo a que se diga, «lá vem mais um a querer tacho»!
A campanha Fernando Nobre – o melhor «político» emergente dos últimos trinta anos, pessoa notável, desprendida, capaz, conhecedora e íntegra – tem de fugir de tais ratoeiras a todo o gás, porque não merece tal desfavor.
Quando uma campanha eleitoral, como uma qualquer organização, parte do zero em termos de estrutura e o faz enformada pelo voluntarismo, a qualquer nível tem de haver uma liderança com empenho ou comportamento «profissional» na forma de trabalhar.
E se tal estrutura não é palpável a nível central,
com competências «escolhidas» nas regiões, poderá instalar-se com o peso distribuído nos dois níveis. Quando nenhuma destas hipóteses é ampla e inteiramente substantivada, poder-se-á sempre repetir o Síndroma Eanes. Qualquer que seja o caso a dedicação sem amadorismos tem de ser imbatível até Janeiro.

















Apesar de aspectos notáveis de campanha Nobre no que respeita à aceitação na rua, mormente o banho de multidão em Matosinhos, no essencial ainda não descolou verdadeiramente na grande imprensa. Os debates públicos, se os houver estão ainda longe, e poderão até virem a ter um formato «taylored» como desfavorável à sua clareza de espírito.
E falta o dinheiro! Quando a campanha Obama descolou a crise do imobiliário e dos produtos tóxicos financeiros não era ainda visível – pelo que os americanos em geral podiam dispor de algum dinheiro para dádivas políticas, que nem sequer eram novidade para si, enfadados com o efeito Bush – e o Facebook estava em plena ascensão nos EUA. Obama capitalizou como nunca apoios pecuniários por
este meio, à margem do partido democrático. Mas a retracção individual e a falta de hábito inibem muitos portugueses de terem um comportamento semelhante, mesmo se o motivo também lhes não falta.
A actual lei de financiamento das campanhas eleitorais, sob a capa do combate ao desequilíbrio financeiro entre as de uns e outros concorrentes, introduz limites patéticos quanto ao valor possível das dádivas.
É o mesmo espírito punitivo que impediu durante anos candidaturas independentes, e mesmo assim com os limites ainda agora existentes. Porquanto, não podendo o dinheiro vir dos particulares em valores substantivos (mesmo se visíveis a olho nú), só os candidatos com suporte partidário, ou os que não têm rebuço em recorrer aos sacos azuis que por aí pululam, sempre perto dos poderes e dos seus actores, para pagar «outdoors» e coisas afins, têm possibilidade de maior repercussão fora do circuito oficial da comunicação.
Assim sendo, as campanhas devem assentar noutro tipo de «faits divers» sempre passíveis de sucesso, maior ou menor, como os debates locais, os concertos solidários, a distribuição pessoa a pessoa de informação sumária e atraente, nos locais adequados, da porta da igreja aos mercados ou fins de turno nas empresas, aos estilos PCP ou Alberto João Jardim, mesmo se as lideranças a certos níveis lhes são avessas na prática, por nada fazerem nesse propósito.
Fernando Nobre, ainda sem o ónus da idade mas desprovido dos meios do aparelho, que a outros não faltam, merece o êxito que as suas capacidades, superiores às dos concorrentes, justificam. Um êxito tal susceptível de credibilizar Portugal. O crédito de que fala Luís Amado para o país, em fase decrescente há décadas e não desde anteontem, e que ninguém ignora ser o nosso «pão para a boca».
Henrique Pinto
Novembro 2010
FOTOS: Manuel Alegre tem na rua uma campanha de «outdoors», caríssima; Edmundo Pedro, socialista histórico, padrinho de Manuel Alegre, importante apoio de Fernando Nobre;  Henrique Pinto em campanha com Fernando Nobre; o professor Cavaco Silva com a companhia de membros do seu governo caídos em desgraça; Barack Obama terá sido um vencedor Facebook, pouco crível em Portugal; Henrique Pinto com Leonel e o mandatário Juventude, na apresentação da sede em Nazaré; Henrique Pinto com Alexandre Delgado, neto do general Humberto Delgado, um portador universal de esperança como Fernando Nobre; Francisco Madeira Mendes, um líder regional de primeira grandeza, e Fernando Nobre, na apresentação do mandatário por Santarém, Nelson Carvalho, destacado militante e autarca socialista; Fernando Nobre com Henrique Pinto e Teresa Serrenho, em Caldas da Rainha;   Manuel Arriaga, primeiro presidente da República, aqui em foto familiar, um homem com a bonomia presciente de Fernando Nobre; Henrique Pinto com Amílcar Couvaneiro e Teresa Serrenho, no debate «Um Projecto para Portugal, na Marinha Grande; Henrique Pinto com o ministro dos negócios estrangeiros, amigo, homem politicamente lúcido e bom observador